segunda-feira, 30 de maio de 2011

ATENAS


 
Deusa Atena 
Desde o século VIII a.C., formaram-se pela Grécia Antiga, diversas Pólis (Πόλις) independentes. Em razão disso, cada uma delas desenvolveu seu próprio sistema de governo, suas leis, seu calendário, sua moeda. 

De modo geral, a pólis (Πόλις) reunia um agrupamento humano que habitava um território cuja extensão geralmente variava entre algumas centenas de quilômetros quadrados e 10.000 km². Compreendia uma área urbana e outra rural. Atenas (Αθήνας), por exemplo, tinha 2.500 km², Siracusa (Συρακούσες) tinha 5.500 km² e Esparta (Σπάρτη) se estendia por 7.500 km². A área urbana freqüentemente se estabelecia em torno de uma colina fortificada denominada Acrópole (Ακρόπολη). Nessa área concentrava-se o centro comercial e a manufatura. Ali, muitos artesãos e operários produziam tecidos, roupas, sandálias, armas, ferramentas, artigos em cerâmica e vidro. Na área rural a população dedicava-se às atividades agropastoris: cultivo de oliveiras, figueira, videiras, trigo, cevada e criação de rebanhos de cabras, ovelhas, porcos e cavalos. Este agrupamento visava atingir e manter uma completa autonomia política e social para com as outras Pólis (Πόλις) gregas, embora existisse muito comércio e divisão de trabalho entre as cidade gregas. É estimado que Atenas (Αθήνας) importava 2/3 à 3/4 de seus alimentos e exportava azeite, chumbo, prata, bronze, cerâmica e vinho. No mundo grego encontramos muitas pólis (Πόλις), dentre as mais famosas, temos Messênia (Μεσσηνία), Tebas (Θήβη), Mégara (Μέγαρα) e Erétria (Ερέτρια). É estimado que seu número tenha chegado a mais de mil no século IV a.C..


A maioria das Pólis (Πόλις) gregas era pequena, com populações de aproximadamente 20 mil habitantes ou menos na sua área urbana. Mas as principais cidades eram bem maiores, no século IV a.C., essas cidades eram Atenas (Αθήνας), com estimados 170 mil habitantes em sua área urbana, Siracusa (Συρακούσες), com aproximadamente 125 mil habitantes. Esparta (Σπάρτη) tinha apenas 40 mil habitantes. em sua área urbana, sendo uma cidade-estado pouco urbanizada em relação às outras.


Atenas (Αθήνας) era a maior e mais rica cidade da Grécia Antiga durante os séculos V e IV a.C. Existem relatos da época que reportam um volume comercial externo (soma das importações e exportações das cidades do império ateniense) da ordem de 180 milhões de dracmas (Δραχμές) áticos, valor duas ou três vezes superior ao orçamento do Império Persa na mesma época.

 ETIMOLOGIA

O nome de Atenas na Antiga Grécia era Athenai (Ἀθῆναι). É uma forma plural: a cidade se chamava “As Atenas”, já que possivelmente era originariamente um grupo de aldeias que se uniram formando a cidade. O nome não possui etimologia grega definida. Os gregos acreditavam que a cidade havia sido batizada por sua protetora, a deusa Atena, mas é igualmente provável que a deusa tomasse o nome da cidade.
BERÇO DA DEMOCRACIA

Atenas (Αθήνας) foi fundada na Ática (Αττική), península do mar Egeu (Αιγαίου), pelo jônios (Ίωνες), que ali se estabeleceram de forma pacífica, ao lado de eólios (Αἰολεῖς) e aqueus (Αχαιοί), antigos habitantes da região. No início, o poder político estava sob o controle dos Eupátridas (Εὐπατρίδαι), donos das terras mais produtivas.
Na cidade, um soberano, chamado Basileus (Βασιλεύς), comandava a guerra, a justiça e a religião. Uma espécie de conselho, o Areópago (Άρειος Πάγος), limitava seu poder. Com o tempo, os Basileus (Βασιλεύς) perderam a supremacia e se transformaram em simples membros de um órgão denominado Arcontado (Ἄρχοντες).

A partir do século VIII a.C., essa organização política sofreu profundas mudanças. Após a expansão territorial, ocorrida durante Segunda Diáspora (Διασπορά), os portos naturais e a privilegiada posição geográfica de Atenas (Αθήνας) favoreceram o intercâmbio comercial com as novas colônias.
Como conseqüência imediata da diversificação das atividades econômicas, houve uma considerável mudança no quadro social. Assim, comerciantes e artesãos enriquecidos passaram a pressionar a aristocracia por maior participação no poder. Ao mesmo tempo, a população mais pobre protestava cada vez mais contra as desigualdades sociais.
Diante da enorme pressão, os Eupátridas (Εὐπατρίδαι) viram-se obrigados a fazer concessões. Com o objetivo de conciliar os conflitos, passaram a escolher legisladores (Νομοθετών) entre os integrantes da Aristocracia (Αριστοκρατία), homens especialmente indicados para elaborar leis. Dois desses legisladores foram Drácon (Δράκων) e Sólon (Σόλων).

DRÁCON E SÓLON

 
Drácon

Drácon (Δράκων) tornou-se legislador em 621 a.C. e foi responsável pela introdução do registro por escrito das leis em Atenas (Αθήνας), até então elas eram orais. A cidade passou a ser governada com base em uma legislação e não mais conforme os costumes. A mudança enfraqueceu o poder dos Eupátridas (Εὐπατρίδαι), mas não resolveu os problemas sociais, e os conflitos continuaram.
Em 594 a.C., Sólon (Σόλων) deu início a reformas mais profundas. Perdoou as dívidas e as hipotecas que pesavam sobre os pequenos agricultores, e aboliu a escravidão por motivo de dívida. Criou a Boulé (Βουλή), um conselho formado a princípio de quatrocentos membros, responsável pelas funções administrativas e pela preparação das leis. Tais leis tinham de ser submetidas à apreciação da Eclésia (Εκκλησία), ou Assembléia (ἀγείρω), formada por indivíduos livres do sexo masculino. Além de votar as propostas de leis, a Eclésia (Εκκλησία) deliberava sobre assuntos de interesse geral.
No âmbito político, Sólon (Σόλων) limitou o poder da Aristocracia (Αριστοκρατία) e ampliou o número de participantes da vida pública da cidade. Sua reforma representou um passo decisivo para o desenvolvimento da Democracia (Δημοκρατία), consolidada posteriormente na legislação de Clístenes (Κλεισθένης). Os conflitos sociais entre Aristocratas (Αριστοκράτες), comerciantes, artesãos e pequenos proprietários de terras, entretanto, não acabaram. Depois do governo de Sólon (Σόλων), a cidade foi palco de grandes agitações sociais.
Em meio a essas agitações, surgiu um novo tipo de líder político, o Demagogo (Δημαγωγός), que mobilizava a massa popular em oposição aos Aristocratas (Αριστοκράτες). Ao chegarem ao poder, esses líderes governavam de forma ditatorial, adotando medidas de apelo popular. Foram chamados de Tiranos (Τύραννος) pelos gregos. O mais conhecido deles foi Pisístrato (Πεισίστρατος) e seus filhos Hiparco (Ίππαρχος) e Hípias (Ιππίας) que, com alguns intervalos, exerceu o poder entre 560 e 527 a.C.
Sólon

CLÍSTENES

Em 507 a.C., Clístenes (Κλεισθένης) assumiu o comando de Atenas (Αθήνας) e realizou um vasto programa de reformas, no qual se estendeu os direitos de participação política a todos os homens livres nascidos em Atenas (Αθήνας): os cidadãos (πολίτες). Desse modo, consolidava-se a Democracia (Δημοκρατία) ateniense.
A participação política, contudo, era restrita a 10% dos habitantes da cidade. Ficavam excluídos da vida pública, entre outros, estrangeiros residentes em Atenas (Αθήνας). os chamados metecos (Μέτοικοι), escravos (δούλοι) e mulheres, ou seja, a maior parte da população. Que na época era de 400 000, dividida em 40000 cidadãos (πολίτες), 100000 de metecos (Μέτοικοι), 200000 de escravos (δούλοι) e 60000 de mulheres e crianças.
Apesar desses limites, a Democracia (Δημοκρατία) ateniense foi a forma de governo que, no mundo antigo, mais direitos políticos estendeu ao indivíduo. Com as reformas de Clístenes (Κλεισθένης), as funções administrativas ficaram a cargo da Boulé (Βουλή), ou Conselho dos 500. Seus integrantes eram sorteados entre os cidadãos (πολίτες). Clístenes (Κλεισθένης) fortaleceu ainda a Eclésia (Εκκλησία), que passou a se reunir uma vez por mês para discutir e votar leis, além de outros temas de interesse geral dos cidadãos (πολίτες). Os assuntos militares ficaram sob a responsabilidade dos Estrategos (Στρατηγοί).
Atribuiu-se a Clístenes (Κλεισθένης) ainda a instituição do Ostracismo (Όστρακαί), que consistia na suspensão dos direitos políticos e no exílio por dez anos dos cidadãos (πολίτες) considerados perigosos para o Estado.
Clístenes

CIDADANIA

A cidadania era muito mais imediata e tangível para um ateniense do que para o cidadão (πολίτη) de uma nação moderna. Nenhuma desgraça podia ser maior do que a perda dos direitos de cidadão (πολίτη). O ateniense vivia numa cidade cujo corpo de cidadãos (πολίτες) nunca passou de 50 mil (aproximadamente a oitava parte da população total, por volta do ano 400 a.C.).
Todo ano havia para o cidadão (πολίτη) ateniense a expectativa de servir no exército ou na frota. Todo ano poderia reunir-se com outros milhares na Eclésia (Εκκλησία) ou ser colocado na lista anual de 6 mil pessoas entre as quais, segundo as necessidades, eram sorteados os jurados para os tribunais populares (Ήλιαία). No mundo grego antigo, porém, isso significava que Atenas (Αθήνας) tinha uma população de cidadãos (πολίτες) bem maior do que a de qualquer outro das centenas de Estados gregos espalhados desde a Espanha até o sul da Rússia de hoje.
Além disso, Atenas (Αθήνας) era uma cidade extraordinariamente cosmopolitana. Um ateniense podia observar milhares de imigrantes temporários ou permanentes de outras cidades gregas ou terras não gregas trabalhando à sua volta, muitas vezes fazendo o mesmo trabalho que ele sem, contudo, compartilhar de nenhum de seus direitos de cidadão (πολίτη). A característica mais marcante da cidadania do ateniense é que, quando viajava para além dos limites de sua própria lis (Πόλις), era imediatamente privado de seus direitos políticos.
As Pólis (Πόλις) gregas mantiveram seu sentido de comunidade política através de leis de cidadania escritas e geralmente exclusivas. Atenas (Αθήνας) tinha leis de cidadania que eram escritas até pelos padrões gregos. Após a lei de cidadania promulgada por Péricles (Περικλής) em 451, só os homens que tivessem a mãe e o pai atenienses podiam ser cidadãos. 

 

MULHERES DE ATENAS



As mulheres tinham menos liberdade em Atenas (Αθήνας) do que em Esparta (Σπάρτη). Casavam-se muito jovens, entre 15 e 18 anos, conforma a escolha dos pais. Após o casamento, tinham de prestar obediência ao marido. As mais ricas viviam reclusas em uma área da casa denominada gineceu (γυναικείον). As mais pobres eram obrigadas a trabalhar. O marido tinha o direito de devolver a esposa aos pais dela em caso de esterilidade ou adultério.
Mulheres de Atenas  
Chico Buarque

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas
Quandos eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas

 
EDUCAÇÃO EM ATENAS

A educação na Grécia Antiga era privada, principalmente em Atenas (Αθήνας), mas com exceção de Esparta (Σπάρτη). Durante o período helenístico, algumas Pólis (Πόλις) estabeleceram escolas públicas. Somente as famílias abastadas podiam contratar um mestre. As crianças do sexo masculino aprendiam a ler, a escrever e a citar os grandes nomes da literatura. Também aprendiam a cantar e tocar um instrumento musical, e a treinar como soldados para o serviço militar. Estudavam não como o objetivo de trabalhar, mas para converterem-se em bons cidadãos (πολίτες). As crianças do sexo feminino também aprendiam a ler, a escrever, a tecer e a fazer a aritmética elementar para dirigir o lar. Mas não recebiam nenhuma educação depois da infância.


Em Atenas (Αθήνας), apesar das mulheres também serem educadas para as tarefas de mãe e esposa, a educação era tratada de outra forma, pois até mesmo nas classes mais pobres da sociedade ateniense encontravam-se homens alfabetizados. Eles eram instruídos para cuidarem não só da mente como também do corpo, o que lhes dava vantagem na hora da guerra, pois eram tão bons guerreiros quanto eram estrategistas.

Mente sã e corpo são.

Platão


Os meninos entravam na escola ao cumprir sete anos, ou iam aos quartéis si viviam em Esparta (Σπάρτη). Os três tipos de ensinamentos eram: grammatistes (γραματιστές) para a aritmética, kitharistes (κιθαριστές) para a música, e paidotribes (παιδοτριβές) para os esportes.



Um menino de uma família abastada que assistia uma escola privada era cuidado por um Paidagogos (Παιδαγωγός), um escravo doméstico designado para esta tarefa que acompanhava o menino todo o dia. As classes eram ensinadas nas casas privadas dos mestres e incluíam aritmética, leitura, escritura, canto e execução de instrumentos musicais como a lira e a flauta. Ao cumprir o jovem doze anos de idade, aos estudos se acrescentavam esportes como a luta, a corrida, lançamento de disco e de dardo. Em Atenas (Αθήνας), alguns jovens maiores assistiam a uma academia para as disciplinas mais finas como a cultura, as ciências, a música e as artes. Um jovem terminava seus estudos ao cumprir 18 anos, logo começava seu treinamento militar no exército por um ou dois anos. 


Era um tipo de educação que incluía o amor pederástico entre o jovem e seu mestre. O jovem aprendia por olhar a seu mentor enquanto falava da política na Ágora (Αγορά), ajudando-o a render seus deveres públicos, fazendo exercícios com ele no Ginásio (Γυμναστήριο) e assistindo a Simpósia (Συμπόσια) com ele. Os estudantes mais ricos prosseguiam sua educação estudando com mestres famosos. Algumas das maiores escolas eram o Liceu (Λύκειο) a chamada escola peripatética fundada por Aristóteles (Αριστοτέλης) de Estagira (Στάγειρα), e a Academia platônica (Ακαδημία) fundada por Platão (Πλάτων) de Atenas (Αθήνας). O sistema educacional dos antigos gregos ricos também se chama Paidéia (Παιδεία).

Nenhum comentário:

Postar um comentário