quarta-feira, 25 de maio de 2011

CIVILIZAÇÃO MICÊNICA

DESCOBERTA

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Tabuleta de escrita linear B
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Tabuleta de escrita linear B com gravura

Tabuleta de escrita Lineal B
Esta civilização foi descoberta a finais do século XIX por Heinrich Schliemann que realizou escavações em Micenas (Μυκήνες, 1874) e Tirinto (Τίρυνθα, 1886). Schliemann acredita ter encontrado o mundo descrito pelas epopéias de Homero (Όμηρος), a Ilíada e a Odisséia. Em uma tumba micênica descobre uma máscara que denomina "máscara de Agamêmnon (Αγαμέμνων)". Igualmente se batiza como "palácio de Nestor (Νέστωρ)" um palácio escavado em Pílos (Πύλος). Teria de esperar aos estudos de Arthur Evans, de começos do século XX, para que o mundo micênico adquirisse uma autonomia própria com respeito a civilização minóica, que a precede cronologicamente.

Nas escavações de Cnosos (Κνωσός), Evans descobre milhares de tabuletas de argila, cozidas acidentalmente durante o incêndio do palácio, em 1450 a. C. Batiza esta escritura como "lineal B", posto que o estima mais avançado que o lineal A. Em 1952, o desciframento do lineal B –identificado como um tipo de grego antigo– por Michael Ventris e John Chadwick mudam a civilização micênica da proto-história e a inserta em sua posição correta dentro de la Idade do bronze do mundo egeo.

No entanto, as tabuletas de lineal B seguem sendo uma fonte de informação muito escassa. Acrescentando as inscrições sobre jarrões, não representam mais que uns 5.000 textos, enquanto que se calcula que havia várias centenas de milhares de tabuletas sumérias e acádias. Além disso, os textos são curtos e de caráter administrativo: se trata de inventários e outros documentos contáveis que não estavam destinados ao arquivo. No entanto, tem a vantagem de mostrar uma visão objetiva de seu mundo, sem a marca da propaganda real.

CRONOLOGIA
Archivo:Mycenae ruins dsc06388.jpg
Ruínas de Micenas
A cronologia da civilização micênica foi estabelecida pelo arqueólogo suéco Arne Furumark em função da tipologia dos objetos descobertos e dos níveis estratigráficos das jazidas escavadas. Apesar de que esta classificação tenha sido criticada, continua sendo utilizada. Se emprega para estes períodos o termo de Heládico Recente (HR).
§       1550–1500: Heládico Recente I (círculos de tumbas de fossa A e B de Micenas, Μυκήνες);
§       1500–1450: Heládico Recente II A;
§    1450–1425: Heládico Recente II B (chegada dos micênicos a Cnossos, Κνωσός);
§  1425–1380: Heládico Recente III A1 (destruição de CnossosΚνωσός, começo dos palácios micênicos);
§      1380–1300: Heládico Recente III A2 (apogeu da construção de palácios micênicos);
§      1300–1250: Heládico Recente III B1;
§    1250–1200: Heládico Recente III B2 (destruição dos palácios micênicos a finais do período);
§      1200–1125: Heládico Recente III C1;
§      1125–1100: Heládico Recente III C2.
O HR I corresponde a transição entre o Heládico Médio e o Heládico Recente. As características culturais da civilização micênica se constituem neste período.

O HR II vê um forte incremento do número de jazidas arqueológicas. Até finais deste período os palácios minóicos de Cnosos (Κνωσός), Festos (Φαιστός), Malia (Μάλιαe Zakros (Ζάκρος) são destruídos. Somente a jazida de Cnossos é reconstruída, para mostrar uma tipologia micênica. Se supõe que haveria sido ocupado pelos micênicos, que haviam invadido Creta (Κρήτη) e tomado o poder. Os arquivos em lineal B de Pílos (Πύλος) datam de até ol HR II B.

Durante o HR III a civilização micênica prossegue sua expansão. Além de Creta (Κρήτη), outras ilhas do mar Egeu (Αιγαίου) e lugares da Ásia Menor mostram depósitos micênicos. Objetos micênicos se encontram em todas as costas mediterrâneas e incluso na Europa central e nas Ilhas BritânicasColônias micênicas foram encontradas em Chipre (Κύπροςe em Levante (Λεβάντε).

Na mesma Grécia, os palácios fortaleza, os tolos (θόλοι), se tornam mais monumentais. Durante o HR III B1, os tesouros encontrados em Micenas (Μυκήνες) e Orcômeno (Ὀρχομενόςmostram a considerável riqueza monumental que os reis micênicos haviam acumulado. Este período constitui o apogeu da civilização micênica. Os arquivos de Cnosos (Κνωσός) datam sem duvida do HR III b (até o 1250 a. C.).

ORIGENS
Após a tradução das tabuletas em lineal B, foi descoberto que aqueles que era chamados impropriamente micênicos (Μυκηναϊκής) são na realidade gregos. Nenhuma fonte escrita que provenha de um depósito micênico indica como se chamava este povo. Segundo uma leitura da Iliada, onde se chama aqueos (Αχαιοίaos gregos, e tendo em conta a menção dos ahhiyawa em fontes hititas do Bronze recente, se pensou em dar aos micênicos (Μυκηναϊκής) o nome de aqueos (Αχαιοί). No entanto, o segundo argumento está longe de ser aceito por todos, e para o primeiro, o termo de aqueos (Αχαιοί) pode ter várias leituras nos textos de Homero (Όμηρος).

A análise lingüística dos textos em lineal B relaciona a língua micênica com os dialetos gregos de épocas posteriores, porém mais ao jônio (Ιόνιο)ático (Αττικόςou eólico (Αιολικήςque aos dialetos aqueus (Αχαιοί) da época clássica. Os primeiros derivariam portanto do micênico (Μυκηναϊκής), enquanto que os segundos estaria aparentados, mas pertenceriam já a um grupo distinto dos micênicos (Μυκηναϊκής) do Bronze recente.

A questão lingüística, baseando-se na comparação com línguas de períodos posteriores, não constitui uma prova suficiente para identificar claramente aos micênicos (Μυκηναϊκής). Além disso, nada prova que estes tenham formado uma única comunidade étnica ou lingüística e é mais provável ver neles um conjunto de povos, ancestrais dos aqueus (Αχαιοί), jônios (Ίωνες), etc. das épocas posteriores, mais que um só povo.

POLÍTICA
Mapa da Grécia Antiga e suas divisões

Em ausência de fontes diretas, a organização política geral do mundo micênico não pode ser conhecida com segurança. Segundo Homero (Όμηρος), Grécia estava dividida em diversos estados. Os citados na Ilíada são: Micenas (Μυκήνες), Pílos (Πύλος), Orcómeno (Ὀρχομενός), que são conhecidos pela arqueologia, mas talvez também Esparta (Σπάρτηou Ítaca (Ιθάκη). Mas a arqueología não pode confirmar estes últimos. Tão somente os estados de Pílos (Πύλοςe Cnosos (Κνωσός) estão claramente atestados pelos textos em lineal B. Dito isto, é impossível conhecer qual era o centro político dominante da Argólida (Αργολίδα): Micenas (Μυκήνες), Tirinto (Τίρυνθα) ou Argos (Άργος), ou talvez incluso Atenas (Αθήνας), e Iolco (Ιωλκού).

A menção de um "rei dos ahhiyawa" nas fontes hititas foi comparada com o "rei dos aqueus", que seria o rei de Micenas (Μυκήνες), Agamêmnon (Αγαμέμνων), na Ilíada. Mas nada prova que os ahhiyawa sejam os aqueus (Αχαιοί) e a localização de seu reino continua discutida: Ásia (Ασία) Menor, Rodes (Ρόδος), Grécia continental... Si certos investigadores querem converter a Grécia micênica em uma confederação de estados dominados por um rei, primus inter pares, que poderia ser o rei de Micenas (Μυκήνες), até o momento não há nada que possa confirmá-lo.

OS ESTADOS DE PÍLOS E CNOSSOS

A uma escala mais reduzida, existe informação através das fontes em lineal B sobre a organização interna dos reinos melhor conhecidos: Pílos (Πύλος) e Cnossos (Κνωσός). Mas tampouco existem muitas certezas.

A forma do estado parece ser um reino, dirigido por um rei, o wanaka (ϝάναξ), cujo papel é sem duvida militar, jurídico e religioso. É identificado com o anax (ἄναξ) homérico. A palavra aparece nove vezes nos textos de oferendas, o que sugere que os soberanos de Pílos (Πύλος) e Cnossos (Κνωσός) eram objeto de culto. No entanto, como em Homero (Όμηρος), o termo também pode designar a um deus.

O wanax era secundado pelo rawageta (λαύαγετας), sem duvida o chefe do exército. Ambos possuem um domínio territorial próprio, o temeno (τέμενος). Outros dignatários são os teretas (τελεσται), que aparecem nos textos como proprietários terratenientes. Talvez tenham uma função religiosa. Os eketas (εταίραι), formam o entorno do rei. São os guerreiros.

Além dos membros da corte, outros dignatários estão a cargo da administração local do território. O reino de Pílos (Πύλος) está dividido em duas grandes províncias, a dewera karaia, a província próxima, ao redor de Pílos (Πύλος), e a perakoraia, a província afastada, ao redor da vila de Reukotoro. O reino se subdivide além disso em dezesseis distritos, que por sua vez são formados por uma série de povoados ou municípios. Para dirigir os distritos, o rei nomeia a um korete (κουρετερ, "governador") e um porokorete (προκουρετερ, "subgovernador"). Um damokoro (δμοκορος, "aquele que se ocupa do damos"), se ocupa dos povoados ou municípios, os damos (δῆμος, "povo"), e um kasirew (βασιλεύς, "rei") exerce igualmente um cargo a nível local, mal conhecido — parece dirigir um Conselho de Anciãos, o kerosia (γερουσία, "conselho").

Parece interessante observar que entre os gregos clássicos, o basileus (βασιλεύςserá o rei, o monarca, como si entre a desintegração da sociedade micênica e a época clássica tivesse sobrevivido como autoridade mais alta, de fato, e ao cabo de algumas generações de jure, o funcionário municipal.

SOCIEDADE

Há uma estrutura político-administrativa onde cabe diferenciar um mundo do palácio e um mundo de aldeia.

O rei recebe o título de Wanaka (ϝἄναξ"senhor divino", "senhor da casa" ou "soberano"). O rei tem poder religioso, como em todas as monarquias da época, mais poder judicial e militar. Wanaka tornou-se anax no grego clássico.
Logo aparece o Rawaketa (λαύαγετας, "povo armado"), ou seja, "o que manda no exército". Rawo tornou-se laos no grego clássico.
Terestas (τελεσται, "cumprimento do serviço"): poderia ser um cargo burocrático ou religioso, mas também parece adjudicado a lavandeiros, pastores, etc. Em qualquer caso supõe a posse de terras. Teresta tornou-se telestai no grego clássico.
Eketas, (εταίραι, "companheiro"): parece um cargo que exerce "controle de tropas". Iqeta tornou-se hetairos no grego clássico.
Os Kasirew (βασιλεύς, "rei") poderiam ser o mando de conexão entre o palácio e a aldeia. Kasirew tornou-se Basileus no grego clássico.
O território que dominava cada um dos palácios era composto por províncias e/ou distritos. Esses últimos, que em alguns lugares se chamavam Oka (Οκά, "demanda militar"), eram por sua vez demarcação militar e dão a chave para a posse da terra. Na frente de cada Oka havia um Morokha com poder de recrutamento. Morokha vêm de   moros (Μόρος,"parte", "destino" ou "fortuna") e khe/kha (χε; χα, "poder" ou "mando"). O conjunto dos morokha era comandado pelo rawaketa antes mencionado.

Em cada aldea de Damos (δῆμος) existia um kerosia (γερουσία) e um korete (κουρετερ), mas também havia um ou dois representantes do palácio, o Kasirew, (βασιλεύς) do qual ao menos se sabe controlava a produção dos ferreiros, e o Damokoro (δμοκορος), talvez para assuntos militares.
Existia uma alta nobreza e uma baixa nobreza, esta última formada pelos administrativos palacianos. Os damos (δῆμος) eram os camponeses livres que tinham terra ou as trabalhavam em regime de aluguel. Doero (δούλος, "escravo") era o termo que designava ao escravo frente ao erewtero (ελεύθερος, "livre"), enquanto que theoiodoero (θείος, "divino", e δούλος, "escravo") era o escravo servidor dos santuários. A parte permaneciam os artesãos ou profissionais livres.

No mais baixo da escala social se encontram os escravos, doero (masculino) e doera (femenino) (δούλος). Só existem testemunhas sobre aqueles que trabalhavam para o palácio.


ECONOMIA

A organização econômica dos reinos micênicos conhecida pelos textos parece ser bipolar: um grupo trabalha na órbita do palácio, enquanto que um segundo grupo parece que trabalha por sua própria conta. Isto se reflete na organização social vista mais acima. Mas nada impede que as pessoas que trabalhavam para o palácio não pudessem ter paralelamente seus próprios assuntos pessoais.
A economia era controlada pelos escribas que anotam as entradas e saídas de produtos, repartem os trabalhos e se encarregam da distribuição das rações. O dumate (δούματαparece ser um tipo de intendente que supervisiona um domínio da economia.

AGRICULTURA


Oliveira
Uva na vinha 1280x960 Papel de Parede Wallpaper
Videira

Trigo e Cevada

Sésamo

Figueira

Predomínio comunal, cultivado por aqueles ao que os textos chamam kamanaewe (καμαναευε), sem duvida o damo (δῆμος). As terras do palácio são atestadas pelos textos. Uma parte compunha o temeno (τέμενος) do wanakha (υάναξ) e do rawageta (λαύαγετας), como foi visto mais acima. A outra, os  onatere (οναθερες), se entrega para sua exploração  aos membros da administração do palácio. Estes podem explorá-la com escravos ou com homens livres, em regime de arrendamento.

A produção agrícola destes reinos segue a tradicional "tríade mediterrânea": cereais, oliveiras e vinhas. Os cereais cultivados são o trigo e a cevada. Também há plantações de oliveiras para a produção de azeite de oliva, que não era empregada necessariamente na alimentação, senão para os cuidados corporais e os perfumes. Com a videira se realizam diversos vinhos. Além disso se cultiva o linho para a vestimenta, o sésamo para o azeite e árvores como a figueira.

A pecuária era dominada pelos ovinos e os caprinos. As vacas e os porcos são mais raros. Os cavalos se dedican fundamentalmente para puxar os carros de guerra.

INDÚSTRIA

Espadas de bronze
A organização do trabalho artesanal é conhecida sobretudo em relação aos palácios. Os arquivos de Pílos (Πύλος) mostram um trabalho especializado: cada trabalhador pertence a uma categoria precisa e dispõe de um lugar específico nas etapas de produção, especialmente na textil.

A industria têxtil é um dos principais setores da economia micênica. As tabuletas de Cnossos (Κνωσός) permitem seguir toda a cadeia de produção, desde os rebanhos de ovelhas ao armazenamento dos produtos finalizados nos armazéns do palácio, passando pelo tingimento, a divisão da  pelos diferentes oficinas e as condições de trabalho em ditas oficinas. O palácio de Pílos (Πύλοςconta assim com uns 550 trabalhadores têxtis. Em Cnossos (Κνωσός) chegavam aos 900. Foi podido identificar quinze especialidades têxtis. Além da lã, o linho é a fibra mais usada.

A indústria metalúrgica era bem atestada em Pílos (Πύλος), onde se empregava a 400 trabalhadores nestas questões. Sabe-se pelas fontes escritas, que lhes distribuíam o metal para que realizassem seus trabalhos: com média de 3,5 kg de bronze por forjador. No entanto, não se sabe qual era a remuneração: está misteriosamente ausente nas listas de distribuição de rações. Em Cnossos (Κνωσόςalgumas tabuletas atestam a fabricação de espadas, mas sem evocar uma autêntica indústria.

A indústria da perfumaria também era atestada. As tabuletas descrevem a fabricação de óleos perfumados: com odor de rosa, sálvia, etc. Também se sabe pela arqueologia que as oficinas dependentes do palácio compreendiam outro tipo de artesãos: ourives, trabalhadores do marfim, escultores, oleiros. Também se fazia azeite de oliva. Alguns destes produtos se dedicavam a exportação.


COMÉRCIO


O comércio está curiosamente ausente nas fontes escritas. Assim, uma vez que o azeite perfumado de Pílos (Πύλος) era armazenado em pequenas jarras, se ignora o que ocorre com ele. Grandes ânforas com sinais de terem contido o azeite foram encontradas em Tebas (Θήβη), na Beócia (Βοιωτία). Tem inscrições em lineal B indicando como origem a Creta (Κρήτη) ocidental. No entanto, as tabuletas cretenses não revelam nem uma palavra sobre a exportação de azeite.


Dispõe-se de pouca informação sobre o circuito de distribuição dos têxtis. Sabe-se que os minóicos exportavam telas finas ao Antigo Egito (Αίγυπτος); sem duvida os micênicos fizeram o mesmo. Provavelmente retomaram por sua conta os conhecimentos minóicos em matéria de navegação, como o demonstra o fato de que seu comércio marítimo começa seu desenvolvimento após a queda da civilização minóica. Apesar desta falta de fontes, é provável que certos produtos, sobretudo os tecidos, o azeite e a metalurgia, estivessem destinados a ser vendidos no exterior do reino, porque sua produção é demasiado importante para estar destinada somente ao consumo interno.

O seguimento dos produtos micênicos de exportação pode ser feito, no entanto, através da arqueologia. Numerosas ânforas foram encontradas no mar Egeu (Αιγαίου), Anatólia (Ανατόλια)Levante (Λεβάντε), Egito (Αίγυπτος), mas também no oeste da Sicília (Σικελία), ou incluso na Europa Central e Grã Bretanha.

De forma geral, a circulação de bens micênicos pode ser traçada graças aos "nódulos", ancestrais das etiquetas modernas. Trata-se de pequenas bolas de argila, feitas entre os dedos ao redor de uma correia, provavelmente de couro, que serve para atar o nódulo ao objeto. Às vezes se acrescentam outras informações, como a qualidade, a origem, o destino, etc. 55 nódulos, que foram encontrados em Tebas (Θήβηem 1982, levam ideogramas que representam um boi. Graças a eles foi podido reconstruir o itinerário dos bovinos: vindos de toda Beócia (Βοιωτία) e Eubéia (Εύβοια), são levados a Tebas (Θήβηpara ser sacrificados. Os nódulos serviam para provar que não se tratava de animais roubados e para demonstrar sua origem. Uma vez que os animais chegam a seu destino os nódulos são comprovados e recolhidos para realizar uma tabuleta contável. Os nódulos são usados para todo tipo de objetos e explicam a rigorosidade da contabilidade micênica: o escriba não tem que contar ele mesmo os objetos, se baseia nos nódulos para realizar suas tabuletas.

RELIGIÃO


A questão religiosa é bastante difícil de se identificar na civilização micênica, em particular quando se trata de depósitos arqueológicos, onde parece complicado identificar com segurança um lugar de culto. Enquanto aos textos, somente as listas de oferendas dão os nomes dos deuses, mas não nos ensinam nada sobre as práticas religiosas.

O panteão micênico já mostra numerosas divindades que se encontram mais tarde na Grécia clássica. Poseidon (Ποσειδών) parece ocupar um lugar privilegiado, sobretudo nos textos de Cnossos (Κνωσός). Nesta época se trata provavelmente de uma divindade subterrânea (Θεός χθονιος), associada aos terremotos. Também se encontram uma série de "Damas" (Κόρη) ou "Madonas" (Πότνια), associadas aos lugares de culto, como uma "Dama do Labirinto" (Αριάδνη) em Creta (Κρήτη), que recorda o mito do labirinto minóico, igual a presença de um "Deus Construtor" (Δαίδαλος). Também se encontra uma "Deusa Mãe" chamada Diwia (Δία). Outras divindades identificadas que se encontram durante épocas posteriores são o par Zeus (Διός) e Hera (Ήρα), Ares (Άρης), Hermes (Ερμής), Atena (Αθηνά), Ártemis (Άρτεμις), Dioníso (Διόνυσος), Erinías (Ερινύες), etc. É de se notar a ausência de Apolo (Απόλλων), Afrodite (Αφροδίτη),  Deméter (Δήμητρα) e Hefesto (Ήφαιστος) divindades de origem oriental.
Nenhum grande templo de época micênica pôde ser identificado. Alguns edifícios encontrados nas cidadelas e que constam de uma habitação central de forma oblonga rodeada de pequenas habitações poderiam ter servido de lugar de culto.

Pode-se além disso, supor que existiu um culto doméstico. Alguns santuários puderam ser recuperados, como o de Filacopi (
Φυλακωπή), onde foi encontrado uma importante quantidade de estátuas que sem duvida formavam parte de oferendas, e se acredita que lugares como Delfos (Δελφος), Dodona (Δωδώνη), Delos (Δήλος) ou Eleusis (Ελευσίς) eram já santuários importantes. Mas isto parece difícil de se provar de forma evidente.

ARQUITETURA


 Reconstrução da Acrópole de Micenas
 Fundação de uma casa particular fora dos muros de Micenas
Portão de Micenas
Leões do Portão de Micenas
 
Visão panorâmica do Portão de Micenas
Túmulo de Atreu
Túmulo de Atreu visto de longe
Interior do Túmulo de Atreu
 Teto abobadado do Túmulo de Atreu
As principais vilas micênicas estão todas fortificadas. Podem estar situadas sobre uma acrópole, como Atenas (Αθηνάςou Tirinto (Τίρυνθα), adosadas a uma grande colina como Micenas (Μυκήνες) ou em frente ao mar, como Pílos (Πύλος). Além das cidadelas, foram encontradas também fortalezas isoladas que serviam sem duvida para o controle militar do território.

As muralhas micênicas são freqüentemente de tipo "cíclopeo": eram construidas de grandes blocos que podiam chegar a ter até oito metros de espessura, empilhados uns sobre os outros sem argamassa para uni-los, ou então, quando não dispunham de grandes blocos, usavam de grandes pedras incorporadas umas nas outras. Diferentes tipos de entradas e saídas foram empregadas: porta monumental, rampa de acesso, portas secretas ou galerias abobadadas para sair em caso de assédio. O temor quanto a um ataque fez com que o lugar eleito possuísse também uma cisterna ou um poço.


HABITAÇÃO

Habitações de Micenas
 
Habitação de Micenas
Habitação de Micenas vista de cima
Os depósitos micênicos mostram diferentes tipos de residências. As mais pequenas são de forma quadrangular e medem entre 5 e 20 metros de largura. Nelas residem as camada mais baixas da população. Podem ser compostas por uma ou mais salas. Neste último caso são mais extensas em épocas mais recentes.

As mais elaboradas são as residências maiores, que medem entre 20 e 35 metros de largura aproximadamente e são constituídas por várias salas e incluso de pátio central. São organizadas segundo um modelo próximo ao do palácio. No entanto, não se sabe que se trate de residências de aristócratas micênicos, posto que existe outra hipótese que acredita que edifícios são dependências auxiliares do palácio, freqüentemente situado em sua proximidade.

PALÁCIOS

Reconstrução do Palácio de Micenas

Os palácios micênicos possuem seus mais belos exemplos nas escavações em Micenas (Μυκήνες), Tirinto (Τίρυνθα) e Pílos (Πύλος). São os centros da administração dos estados micênicos, como foram demonstrado nos arquivos encontrados. Desde o ponto de vista arquitetônico, são os herdeiros dos palácios minóicos, mas também de outras grandes residências da Grécia continental do período Heládico médio.

São organizados ao redor de um conjunto de pátios para o qual se abrem diversas salas de diferentes dimensões, entre as quais se encontram armazéns e oficinas, além de zonas de residência e representação. O coração do palácio é o megaron (Μέγαρων), a sala do trono, organizada ao redor de uma fogueira circular rodeada de quatro colunas, O trono se encontrava geralmente sobre o lado esquerdo segundo se entra na sala. Parece que os edificios só tinham uma planta. Nos palácios micênicos também foi escavado um importante mobiliário, além de afrescos.

ARTE E ARTESANATO

CERÂMICA

Vaso floral
Vaso campestre
Vaso decorado com cenas de procissão funeral
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Vaso com decoração vermelha
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Crátera com decoração negra
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Crátera com decoração animal
Archivo:Mycenaean stirrup vase Louvre AO19201.jpg
Vaso com decoração de listras negras
Vaso com listras vermelhas
Vasos de vários tipos e tamanhos 
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Kílix de barro
Skífos negra
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Oinokhoes branca
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Oinokhoe branca
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Skífos com procissão
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Crátera com cavaleiros
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Skífos com mulheres

Kílix de deuses
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Skífos com desenho de deuses
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Crátera com desenho de deuses
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Oinokhoe com cavalos
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Crátera com Héracles e o Leão Neméio 
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Crátera com desenhos geométricos 
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Kílix com dançarinas
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Skífos com Héracles
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Skífos com seres mitológicos
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Oinokhoe com gazelas
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 Crátera com centauro 
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Crátera com deuses
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Oinkhoe com desenhos geométricos
Kílix com olhos
Kílix vermelha
Crátera negra
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Escultura de marfim de uma Píxis (caixa de cosméticos)

Crátera de Ouro

Máscara de Agamêmnon

Jóias de ouro micênicas

Jóias de ouro micênicas

Anel dourado

Anel dourado

Diadema dourado

Vaso de cristal de rocha
A arqueologia encontrou uma grande quantidade de cerâmica de época micênica, de estilos muito diversos: jarras, vasos, cântaros, ânforas, Cráteras (Κρατήρας), Oinokhoe (Οινοχόη), Kílix (Κύλιξ), Skífos (Σκύφος), jarrões chamados de "cálices de minas" por sua forma, etc. A oficina das jarras é muito variada. Os modelos são muito homogêneos em todo o espaço micênico durante o HR III B, onde a produção aumenta consideravelmente em quantidade, sobretudo na Argólida (Αργολίδα), de onde provêm grande quantidade de jarras exportadas fora da Grécia. A produção destinada a exportação era em geral mais luxuosa e dispunha de decoração pintada e muito bem trabalhada, utilizando motivos mitológicos, guerreiros ou animais.
Outro tipo de vasilha, de metal, principalmente de bronze, foi encontrado em quantidades importantes nos depósitos micênicos. As formas neste caso são mais bem os trípodes, tigelas ou lamparinas. Foram encontrados alguns exemplos de jarras de louça ou de marfim.


ESCULTURA


Estatuetas Tau e Psi
Deusa Mãe
Deméter, Perséfone e Triptólemos

O período micênico não produziu estátuas de grande porte. A maior parte das esculturas do período consistem em estatuetas finas de terra cozida, encontradas sobretudo no depósito de Filacopi (Φυλακωπή), mas também em Micenas (Μυκήνες), Tirinto (Τίρυνθα) ou Asine (Ασίνη). A maioria das estatuetas representam figuras antropomórficas ou também zoomórficas, masculinas ou femininas. As figuras estão em diferentes posturas: braços estendidos, elevados para o céu; braços pregados sobre os quadris; sentados. Estão pintadas, monocromáticas ou policromáticas. Seu sentido não está claro, mas parece provável que se trate de objetos votivos, encontrados em contextos que parecem ser de lugares de culto.


A figura mais representativa é a chamada Tríade Divina, que representa duas deusas e um menino, talvez precedentes de Deméter (Δήμητρα), Perséfone (ΠερσεφόνηTriptólemo (Τριπτόλεμος), divindades vinculadas a fertilidade dos campos. Também destaca uma imagem da deusa mãe com seu filho no colo.
Também são correntes os ídolos em psi (Ψ), em phi (Φ) ou em tau (Τ), assim chamados por sua semelhança a éstas letras do alfabeto grego. Se encontra principalmente em tumbas e em santuários.

PINTURA
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Reconstrução do Megaron do Palácio de Nestor
Dama com caixa
Cavaleiro de Dama numa carruagem
Afrescos coloridos de multiformas
 
Dama da corte
A pintura micênica era muito influenciada pela minóica. Foram encontrados alguns afrescos murais nos palácios micênicos. Os temas representados são variados: caça, combates, procissões, relatos mitológicos. Outros afrescos eram formados por motivos geométricos. Uma parte da cerâmica era pintada com temas idênticos.

ARMAS
Espada de bronze com incrustações de ouro
File:Mycenaean Treasure.jpg
Espadas Micênicas
Armadura de Dendra
Archivo:NAMA Mycènes bouclier 1.jpg
Afresco de escudo micênico
Afresco de guerreiros com a armadura micênica
Homem usando uma típica armadura micênica
Armadura micênica completa
Elementos militares foram encontrados entre os tesouros do período micênico. O achado mais impressionante é o da armadura de Dendra (Πανοπλία Δενδρό), o equipamento completo de um guerreiro. A couraça que leva é composta de placas de bronze cozidas sobre um vestido de couro. O peso da armadura devia impedir a mobilidade do guerreiro, pelo que se acredita que se tratava de um combatente sobre carro. No entanto, diferentes experimentos demonstraram que também podia ser usada a pé.
O armamento defensivo encontrado nos depósitos micênicos é formado por alguns capacetes, a destacar un modelo em forma de cabeça de javali, que está ausente nos últimos níveis do Heládico recente. Se empleaban dos tipos de escudos: um modelo em forma de 8 e outro modelo retangular, arredondado acima. Eram realizados em couro.
As armas ofensivas são sobretudo de bronze. Foram encontradas lanças e dardos, além de um conjunto de espadas de diferentes tamanhos, feitas para golpear com a borda como de florete. O resto do armamento encontrado para este período se compõe de punhais e flechas, demonstrando a existência de arqueiros.

PRÁTICAS FUNERÁRIAS
Relevo tumular
A forma de soterramento mais corrente durante o Heládico Recente é a inumação. Enterra-se sob o próprio solo das habitações ou no exterior das zonas residenciais, em cemitérios, às vezes em túmulos, o thólos (θόλος). Esta forma se remonta aos mais antigos períodos de povoamento indo-europeu da Grécia e suas raízes devem ser buscadas nas culturas balcânicas do III milênio a.C. e incluso na cultura dos kurganes. As tumbas individuais são em forma de cista, com uma frente de pedras. No HR I aparecem mobiliários funerários, que estavam ausentes nos períodos anteriores. A princípio do Heládico Recente também se nota a presença de tumbas comuns, de forma retangular. Parece difícil estabelecer si as diferentes formas de inumação traduzem-se em uma hierarquia social, como acredita-se em ocasiões, convertendo os thóloi (θόλοι) nas tumbas das elites dirigentes, as individuais nas tumbas das classes ricas e as tumbas comuns nas do povo.

A cremação aumenta em número ao longo da época, até converter-se em um ato muito importante até o HR III C. Talvez seja a prova da chegada de um novo povo  na Grécia.

As tumbas mais impressionantes da época micênica são as tumbas reais monumentais de Micenas (Μυκήνες), sem duvida dedicadas a família real da cidade. A mais célebre é a "tumba de Agamêmnon" (Αγαμέμνων) em Micenas (Μυκήνες), que tem forma de thólos. Próxima se encontram outras tumbas, chamadas de "círculo A", as chamadas "de Clitemnestra" (Κλυταιμνήστρα) e de "Egisto" (Αίγισθος). Todas deram impressionantes tesouros, exumados por Schliemann durante suas escavações de Micenas (Μυκήνες).
DECADÊNCIA E FINAL

 O FINAL DOS PALÁCIOS
As escavações realizadas em Micenas (Μυκήνες) permitem dividir o HR III B em duas fases. Esta distinção é baseada na destruição, ao final do HR III B1, de um bairro da cidade: um violento incêndio destruiu de uma vez os edifícios conhecidos sob o nome de "Casa do Mercador de Azeite", "Casa dos Escudos", "Casa das Esfinges" e "Casa Oeste". A destruição do grande edifício de Ziguries parece haver ocorrido no mesmo momento. Os assentamentos ou os setores afetados não voltariam a ser reconstruídos  

No HR III B2 um reforço geral das obras de defesa: o noroeste da cidadela de Micenas (Μυκήνες) é reforçado para proteger o acesso a cisterna subterrânea. Reconstruí-se a cidadela baixa de Tirinto (Τίρυνθα) e a dota de cisternas para recolher água sob o novo muro. A Acrópole (Ακρόπολη) de Atenas é amuralhada pela primeira vez e igualmente se conecta a uma fonte subterrânea. A destruição de Gla (Γλα), que ocorre pouco depois e a construção de um suposto baluarte cortando o istmo de Corinto (Κόρινθος), assim como as modificações efetuadas no complexo palacial de Pílos (Πύλος) poderiam ser interpretadas como outros signos da crescente insegurança que reinaria nas diferentes zonas da Grécia micênica.

No entanto não se limitam a reforçar as muralhas das cidadelas nem a construir no interior destes conjuntos estreitamente ligados com os palácios: Além disso, assentamentos sem fortificar como Korakú (Κοράκου), Muriatada (Μουρίατη), Nicoria (Νίκoυρία), Orcômenos (Ορχομενό) e Pílos (Πύλος parecem conhecer durante a segunda metade do século XIII uma notável prosperidade.

Até finais do HR III B2, quase todos os grandes centros do continente são total ou parcialmente destruídos. Estas novas destruições, freqüentemente acompanhadas de incêndios, parecem ter se concentrado nos assentamentos palaciais ou de importância comparável. Irão acompanhadas de numerosos abandonos. A data de destruição de Pílos (Πύλοςpermanece duvidosa: alguns acreditam que é anterior a dos centros da Argólida (Αργολίδα), mas outros observam que determinados vasos descobertos no último nível são atribuídos ao princípio do HR III C. 
A GRÉCIA DO HELÁDICO RECENTE III C.
Este período permanece limitado mais ou menos entre o último quarto do século XIII ou primeiro do XII e a aparição das primeiras cerâmicas de estilo protogeométrico na Ática (Αττική), a meados do XI.

Depois das destruições de finais do século XIII, se observa uma diminuição muito sensível do número de assentamentos ocupados. Este abandono afeta em certas regiões, como o sudoeste do Peloponeso (Πελοπόννησος) ou da Beócia (Βοιωτία), a cerca de 90 % dos assentamentos. Na Argólida (Αργολίδα), em Lacônia (Λακωνία), na Fócida (Φωκίδος) e em Lócrida (Λοκρίδος) o fenômeno afeta 70 %, enquanto que na Ática (Αττική) os centros ocupados em HR III C mantêm 50 % dos assentamentos do HR III B.

O despovoamento de certas regiões, que poderia ser deduzido destas observações, parece duvidoso, posto que estas mesmas cifras podem corresponder igualmente a uma concentração de povoação sobre assentamentos mais seguros. Até então alguns lugares somente haviam conhecido uma ocupação esporádica: Leucandi (Λευκαντί), na Eubéia (Εύβοια), Perati (Περατή), na Ática (Αττική) e, em menor medida, Asini (Ασίνη) na Argólida (Αργολίδα). Outros conservam uma posição preeminente, como Tirinto (Τίρυνθα) e Micenas (Μυκήνες), cujas fortificações, uma vez reparadas e reforçadas, guardam sempre numerosas construções.



As comunidades continentais, desprezadas ou reagrupadas, mantém durante um tempo um certo grau de prosperidade que sem ser comparável ao de tempos precedentes, não deixa de ser real. O período HR III C segue sendo micênico, ainda que é certo que o sistema econômico e político característico do período precedente não parece já prevalecer, pois suas manifestações mais visíveis, tabuletas inscritas, objetos de ouro e marfim, vasos metálicos e construção de tholos desapareceram ou se se tornaram muito raros; no entanto as produções artesanais se marcam estreitamente na continuidade de uma tradição e pelo menos certas regiões da Grécia continental mantêm, sem duvida em menor escala, seus laços com o resto do Mediterrâneo.



Sería difícil dizer o que substituiu a este sistema palacial e que tipos de organização econômica e política prevalecem a partir de agora. Si alguns centros de poder como Pílos (Πύλος) e Tebas (Θήβη) desapareceram por completo, outros como Micenas (Μυκήνες) e Tirinto (Τίρυνθα) simplemente se transformaram, mas é a mesma natureza desta transformação que segue sendo impossível de definir.



Ao lado destas permanências e transformações relativas devem destacar-se algumas novidades como as cerâmicas chamadas bárbaras, as fíbulas em forma de arco de violino, o uso mais extenso do ferro e certos tipos de armas. Outros traços, como a preferência dada em determinados lugares (Salamina (Σαλαμίνα), e Leucandi, (Λευκαντί), especialmente) e bastante tardiamente, as sepulturas individuais dentro de cistas ou poços não devem ser consideradas como verdadeiras inovações, senão como resurgimento de práticas antigas, não abandonadas nunca de todo. A cremação de cadáveres, que se geraliza ao final do período e durante a época protogeométrica, também está atestada antes do final do HR III B.



De fato a importância de tais “inovações” é às vezes sobrevalorizada segundo se tente apoiar alguma das diferentes hipóteses propostas para explicar os fenômenos que caracterizam a passagem do HR III B ao HR III C.

AS INVASÕES
Em tempos históricos, os gregos que falavam dialetos dóricos e estavam estabelecidos no Peloponeso (Πελοπόννησος), a exceção da Arcádia (Αρκαδία), em algumas das Cícladas (Κυκλάδες), como Melos (Μήλος) e Zira (Ζήρα), em Rodes (Ρόδες) e nas costas de Caria (Καρία), pretendiam basear sua originalidade lingüística em sua história legendária. O mito mostra a invasão dos dórios (Δωριείς) como o retorno dos Heráclidas (Ηρακλείδης). A legenda estabelece que os filhos de Héracles (Ηρακλής) reclamaram, como havia feito seu pai em vida, o trono de Argos (Άργος); acabaram por banir-se para o norte após passar um certo tempo acolhidos em Atenas (Αθηνάς) e consultarem ao oráculo de Delfos (Δελφος) que lhes revelou a volta triunfal. Ao cabo de umas gerações voltaram e conquistaram a terra de onde haviam saído, derrotando aos Átridas (Ατρέας), descendentes de Euristeu (Ευρυσθέας), soberano de Micenas (Μυκήνες) e carrasco do herói. Os argumentos lingüísticos podem fazer crêr que estas legendas refletem um momento histórico.

No entanto, qualquer que seja a credibilidade que demos a estes relatos, especialmente as invasões dórias, sempre se planeja a questão de uma eventual invasão do continente grego. E antes de interrogarmos sobre o ponto de partida e sobre a data desta invasão, devemos decidir si os testemunhos arqueológicos de que dispomos são suficientemente sólidos para basear uma explicação deste tipo. A cerâmica chamada bárbara  proporciona um bom exemplo das dificuldades para passar do testemunho arqueológico para a interpretação histórica. Esta cerâmica, de cor escura, fina ou suficiente, sempre feita a mão e polida com um instrumento que deixa traços visíveis em sua superfície, decorada às vezes com cordões, foi encontrada pela primera vez em Micenas (Μυκήνες) e mais tarde em Korakú (Κοράκου), Leucandi (Λευκαντί), Atenas (Αθηνάς), Perati (Περατή), Egeria (Εγερία), Asini (Ασίνη), Tirinto (Τίρυνθα) e no Menelaión (Μενελάιον) de Esparta (Σπάρτη).

Esta cerâmica aparece geralmente associada com materiais e níveis que datam de princípios do HR III C, parece totalmente ausente ao final desta fase. Deduzindo argumentos a partir de tais elementos, foi podido crer que este material havia acompanhado, junto com outros, a migração de um grupo humano originário dos Balcãs (Βαλκάνια) ou da Trácia (Θράκη), grupo do qual se encontrariam traços na cultura de Tróia (Τροία) VII. Este grupo poderia ser considerado o responsável, sozinho ou com outros, da destruição dos palácios, depois do qual  haveria se fundido na cultura micênica, deixando de fabricar sua própria cerâmica. Observa-se facilmente a fragilidade desta hipótese necessariamente redutora com respeito a complexidade dos fatos que pretendem explicar. A origem estrangeira da cerâmica bárbara tem sido discutida mas, ainda que se demonstre, parece impossível eleger uma origem precisa para esta classe de cerâmica e se está longe de poder estabelecer uma correlação automática entre grupo étnico e tipo de cerâmica.

E para que esta cerâmica e os demais objetos mencionados nesta discussão mostrassem a realidade de uma invasão, sería necessário que aparecessem repentinamente, que fossem raros ou desconhecidos antes do momento suposto da invasão e que se estendessem amplamente. Nenhuma destas testemunhas responde a estas condições.

É difícil admitir que uns invasores vitoriosos houvessem se instalado de forma duradoura nas terras conquistadas e não houvessem deixado um traço mais profundo. En cambio é bom recordar que depois da onda de destruições ao final do HR III B a civilização da Grécia continental continua sendo essencialmente micênica. Por fim, se deveriam apresentar os movimentos de população perceptíveis em direção das zonas das quais fazem precisamente surgir os ataques (Grécia do noroeste e do Mediterrâneo oriental).

Uma segunda série de hipóteses, que às vezes se une a primeira, trata de estabelecer um vínculo entre os distúrbios que afetaram a Grécia continental e as destruições sofridas por Anatólia (Ανατόλια), Chipre (Κύπρος) e Levante (Λεβάντε) mediterrâneo durante o último quarto do século XIII. Os "povos do mar", contra os que lutam várias vezes e ao que parece com êxito Merenptah (1213-1203) e os primeiros faraós da dinastía XX, especialmente Ramsés III (1184-1158), são os que se consideram responsáveis pela desintegração dos povos hititas (Χιττίτες) e também de todos os assentamentos da costa sírio-palestina. A explicação é cômoda mas demasiado sensível. Nada nos permite supor que os "povos do mar" penetraram na Grécia a finais do século XIII, nem que as populações gregas se movessem naquele momento até o Mediterrâneo (Μεσόγειος) oriental, porque as únicas razões que se tem para associar os "povos do mar" com a história do mundo egeu são a presença nos arquivos egípcios da palavra Ekwesh, assimilada em “aqueus”, que depois da destruição de seus palácios teriam fugido para o Oriente e a inspiração micênica da cerâmica filistea (Φιλισταίος).

O final do século XIII aparece, é certo, como um período de grande confusão em todo o Mediterrâneo (Μεσόγειος) oriental. As destruições da Grécia continental, o abandono dos assentamentos tradicionais em Creta (Κρήτη) a finais do império hitita (Χιττίτες), a destruição da maior parte dos assentamentos chipriotas e levantinos e o surgimento de uma entidade filistea (Φιλισταίος) ocorrem em um lapso de tempo bastante curto, com no máximo uns trinta anos. Mas não se puede afirmar que algum destes fatos seja mais por causa que a conseqüência dos demais, apesar de que os síntomas (ruptura das vias econômica, social e política, crescente insegurança, ressurgimento de uma pirataria endêmica) sejam comuns a todas as regiões do Mediterrâneo (Μεσόγειος) oriental.

As interpretações que tratam de descobrir um “estado de urgência” após alguns dos textos achados em Pílos (Πύλος), se vinculam também a esta primeira série de hipóteses. Apresentam todo o ouro e o bronze recolhidos como requisições obrigatórias destinadas a afrontar uma situação crítica e as isenções que beneficiam alguns grupos como prova de dita situação. Igualmente, as citas militares, especialmente sobre as tabuletas o-ka, expressariam a instalação de um dispositivo de defesa contra um iminente ataque surgido do mar. Yodo ele parece um tanto exagerado, porque as isenções fiscais ou a recolhida de metais preciosos podem perfeitamente considerar-se algo normal no funcionamento del palácio. Além disso, não é certo que as tabuletas o-ka se referem a preparativos militares, nem que estes sejam excepcionais.

Vemos, pois, uma vez examinados estes dados que si devemos aceitar, baseando-nos em dados lingüísticos, a idéia de uma “invasão sem invasores”, nos encontramos também enfrentando a alguns paradoxos: regiões que foram encontradas, como Lacônia (Λακωνία), no centro das zonas dóricas aparecem quase completamente abandonadas depois do HR III B, enquanto que outras não dóricas, como Ática (Αττική), parecem mais abertas as inovações ou as transformações culturais.
OS FATORES NATURAIS
Esta teoria de Carpenter, defende que o final da Idad do Bronce haveria sido na Grécia num período de repentina mudança climático. Uma grande seca haveria arruinado uma economia baseada na agricultura e isto haveria provocado a decadência do sistema palacial. Contra esta teoria foram levantadas duas objeções principais:
§      Os contrastes entre uma e outra região da Grécia parecem demasiados amplos para que um agente natural deste tipo possa ter-se em conta;
§      uma quase completa impossibilidade para estabelecer a realidade de uma importante mudança  climática durante este período.
Segundo Killian, a falta de traços de incêndio, a abundância de material nos sítios, a inclinação e as deformações ondulantes de alguns muros achados na cidadela baixa de Tirinto (Τίρυνθα) estão a favor de um terremoto destruidor a finais do HR III B2, o qual seria a causa das destruições observadas em Micenas (Μυκήνες) e em Pílos (Πύλος). No entanto, apesar de que tremores sísmicos houvessem podido causar periodicamente grandes destruições, não podem ter afetado simultaneamente as regiões tão afastadas como a Argólida (Αργολίδα) e Mesenia (Μεσσηνία), nem tampouco ter conseqüências econômicas e políticas tão graves por sua causa. A erupção do vulcão de Zira (Ζήρα) ao final da época micênica esta hoje em dia absolutamente rejeitada.
 
CONFLITOS INTERNOS
Segundo Hooker, a queda do sistema palacial se deveria a conflitos internos que opuseram aos Estados micênicos entre eles ou bem a diferentes categorias de população. Neste último caso, a “luta de clãs” poderia ter sua origem no desmoronamento de um sistema econômico que não haveria mantido seu papel essencial de regulamentação e redistribuição. Esta hipótese deveria apoiar-se em uma interpretação original das “invasões dórias”. Aqueles a quem as tradições legendárias chamam dórios teriam estado já presentes na Grécia desde uma data muito anterior ao século XIII; convertidos talvez em escravos pelos senhores dos palácios e falando uma língua “especial”, poderiam ter sido, em parte, os responsáveis pelo repentino final do sistema palacial.
Esta hipótese harmoniza bem com os dados arqueológicos porque tem em conta por sua vez a repentina ruptura que representa o final dos palácios e a continuidade cultural observada entre os séculos XIII e XII, mas os lingüistas possuem duvidas, porque segundo eles o micênico “especial” não pode ser assimilado a um protodórico.
De fato poderiam ter-se combinado vários fatores para acabar destruindo uma organização burocrática da sociedade, frágil seguramente no entanto que muito rígida. Uma economia baseada na especialização dos produtos agrícolas e muito dependente do exterior para o aprovisionamento de matérias primas essenciais, está sempre a mercê de uma ruptura provocada ou precipitada por um brusco aumento da população, uma contração dos intercâmbios no continente ou na bacia mediterrânea, uma interrupção ou uma maior lentidão das comunicações, ou por tensões internas talvez violentas, ou ainda por pressões em suas fronteiras.
Em qualquer caso, os acontecimentos de finais do século XIII marcam o ocaso da organização palacial mas não indicam, em troca, o final da civilização micênica, Assistimos ao “final de um modelo”, mas não todavia ao “final de um mundo”. A ruptura, claramente evidente, será seguida por um lento desmoronamento cultural.
FINAL DA CIVILIZAÇÃO MICÊNICA
O sistema palacial e os câmbios culturais que conduzirão a época protogeométrica devem ser considerados separadamente. Por um lado, um século pelo menos, o período que vai desde o final do século XIII ao princípio do século XI, separa estes dois fenômenos. Por outro, as razões que explicam estas duas séries de acontecimentos não parecem estar necessariamente ligadas.

Até o 1125 o 1100 acontecem novas e grandes destruições. Estas põem fim a existência das cidadelas de Micenas (Μυκήνες) e Arauxos (Αραούχο) em Acaia (Αχαΐα); são sensivelmente contemporâneas da destruição dos edifícios da fase 2 de Leucandi (Λευκαντί) e do abandono de Tirinto (Τίρυνθα). Logo, assistimos a uma decadência geral até o final do que se havia considerado como época micênica, ou seja, até a aparição de cerâmicas de estilo protogeométrico.

Mas, como qualificar e caracterizar este período intermediário? Furumark reconhecia uma continuidade entre a época micênica e uma etapa “submicênica”, posto que deu a cerâmica deste período o nome de III C2. Realmente, alguns traços estilísticos “submicênicos” constituem o desenvolvimento de traços III C1 ou incluso III B. Outros investigadores, como Desborough, viram no “submicênico” um fenômeno local, especialmente Ático (Αττική), que intervém justo antes do final do HR III C. Styrenius, como Deshayes, demonstra, pelo contrário, que as distintas regiões da Grécia haviam sofrido simultaneamente o mesmo fenômeno. Mas recentemente Rutter propôs abandonar a denominação “submicênico” por excessivamente relacionada com o material funerário e considerar esta fase como uma última etapa do período micênico, muito diferente de uma a outra região.

A maioria das teorias propostas para dar conta do desaparecimento dos palácios falam da “decandência” da civilização micênica e do caminho até o que ainda parece cômodo qualificar como o “período obscuro”  como a última conseqüência do desaparecimento. Mas os dois fenômenos devem ser vistos separadamente.

Por uma parte, ao final do MR III B nos encontramos frente a uma repentina modificação da organização econômica e política da sociedade, e esta modificação não provoca aparentemente nenhum câmbio cultural importante.

Por outro lado, até o final do HR III C se observa o desaparecimento quase completo de alguns costumes, como a inumação coletiva nas tumbas de câmara, e a multiplicação de costumes sustitutorias: sepulturas individuais em cistas e em poços e cremação de cadáveres. Estes costumes vão se converter nos traços dominantes de outro tipo de civilização, mas se impõem progressivamente, sem ruptura aparente.

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